6.10.09

Vi passarinho verde e não gostei. A Natureza novamente contra mim.

Quando o mundo era simplesmente o mundo e éramos movidos apenas por nosso instinto de preservação da espécie, os seres humanos tinham medo de coisas como onça pintada e trovão.

Mas assim que o mundo foi acimentado, a natureza passou a nos amedrontar com bichos mais discretos. Um mosquitinho da dengue aqui, uma salmonela no croquete ali, e, claro, os passarinhos da minha janela.

Todo ano, sem falta, eles se abancam. Nem são os mesmos. Coisa de indicação. Parece que o vão do ar-condicionado do meu quarto está em algum guia Michelin dos pássaros, com seis estrelas no quesito conforto para reprodução.

Eles fazem ninhos elaboradíssimos e põe ovos, sem fazer alarde, e só quando os filhotes clamam por comida, me dou conta da invasão.
Você, amante dos animais que me lê agora, dirá:
"Ó, mas eles são tão fofinhos..."
"Ó, mas eles são uma família..."
"Ó, mas é o milagre da natureza na sua janela!"

Ao que eu responderei:
"Mas por que logo no meu quarto?"
"Mas por que eles podem procriar se eu não posso dormir?"
"Por que tenho permissão para devorar galinhas, vacas, patos e doces coelhinhos asssados, aniquilar baratas, moscas e aranhas com uma chinelada, e não posso derrubar uns ovinhos do 4 andar?"

Acontece que meu instinto assassino vai decrescendo de acordo com o relógio.
Às cinco da manhã, sou uma primata das savanas, que grita, urra ameaças, jura vingança assim que limpar a remela.

Às oito, acordo de mau-humor, mas já consigo ver um lado bom: não perdi a hora. Eles são meu novo despertador.

De volta pra casa, ao ver papai e mamãe-passarinho indo e voltando com comida para os filhos, me comovo e juro desistir de meus planos de extermínio.

Hoje, porém, eles abusaram da sorte, me dando um vôo de ataque rasante estilo kamikaze, só porque abri a janela do meu próprio quarto.

Em represália, decidi cutucá-los com a vassoura e, durante a manobra, para qual não tenho qualquer treinamento, quase matei o porteiro que estava lá embaixo.
Vejam só: para proteger um passarinho, eu quase matei o Zé!

Diante do paradoxo de colocar em risco a própria Humanidade, pelo bem-estar de um bicho de 10 gramas, encontrei um meio termo que não atormentará a minha consciência.
Deixei o ninho no limite da queda e vou viajar por três dias.
Eles que ensinem os filhos a voar nas próximas 72 horas!
Senão...




p.s: Ah, sim, a vista da minha janela é mesmo cor-de-rosa. Sorry.
p.s2 : Vejam a última temporada do seriado "Eu mato passarinhos", em:
http://angelicalopes.blogspot.com/2009/01/insnia-e-crueldade.html

p.s3: Momentinho blog é cultura. A expressão "O QUE FOI? VIU PASSARINHO VERDE?"(que eu não concordo, obviamente) tem sua origem no seguinte costume: no século passado, namorados adestravam periquitos para levar cartas de amor para as namoradas, burlando a vigilância dos pais da donzela. ai, ai.

2 comentários:

Angélica Lopes disse...

Ironia do destino:

Quando cutuquei os passarinhos com a vassoura, assustei os ácaros-parasitas deles, que invadiram meu quarto, embacaram clandestinamente na minha blusa e
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

Fiquei investada de ácaros microscópicos por 5 dias!

Agora, quem vai defender os passarinhos? Hein? Hein?

Anônimo disse...

Angel aumenta a taxa de hospedagem...Quem sabe ano que vem eles não desistem? rsrsrs
Beijos
Te adoro!