28.10.09

Nova Onda dos Pedintes de Ônibus - eles agora são BBBs. Ou melhor, BB-Bus

Primeiro, era a selvageria do:
"Passa o relógio aí, mermão!"

Depois, veio o quase-assalto, sob a forma do:
"Eu poderia estar roubando..."

Com o surgimento do:
"Desculpe interromper a tranquilidade da sua viagem..."
vimos que a chegada de um certo treinamento corporativo dos pedintes de ônibus.
Coisa de RH.

Depois, entramos no capitalismo primário, oferecendo serviço, algo últil ao consumidor:
"A caneta Bic custa 1,80 na papelaria. Na minha mão, você leva duas por 1 real. Vermelha, preta ou azul."

Mais tarde, foi o aumento da oferta - vendendo prazer, e deixando os passageiros confusos com tanta opção.
"Chegou a alegria da sua viagem. Pelo mesmo preço, você pode levar dois saquinhos de amendoim, com casca, sem casca, japones, ou cinco balas sete bello, sabor maçã verde ou morango, ou um maxgoiabinha, ou dois bom-bons serenata de amor, ou três pastilhas garoto de hortelã, ou..."

Nos últimos meses, a nova onda:
O reality show dos pedintes.
Sempre antenados com o que acontece, eles agora dão depoimentos trágicos com comprovante de residência e CPF.
Já que o importante é ser verdade.

"Eu estou aqui, um pai de família,
passando pela vergonha de pedir ajuda,
porque fui demitido da companhia tal,
e moro no bairro tal,
rua tal, numero tal, como vocês podem ver aqui..."

Tome de tirar do bolso, notas, faturas, carteira de trabalho,
de identidade.
E nada de mostrar ferida purulenta, que isso remete à era pré-assalto!
O depoimento tem que ter detalhes e pelo menos cinco minutos de duração: contar a história, falar dos próprios sentimentos, criar imagens na cabeça do expectador, emocionar.

Hoje, na volta do trabalho, peguei a terceira história trágica da semana e confesso que mudei de canal.
Afinal, os pedintes-reality, assim como os BBBs, tem que ser bem escolhidos pela produção.

O de segunda-feira, por exemplo, não tinha dentes, quase chorou e disse que tinha uma filha doente na cama. Quando falava, o rosto ficava vermelho e as veias saltadas no pescoço.
Parecia realmente sem saída, ganhou 1 real.

O de hoje, dizia frases feitas como:
"Nem que eu pegue 10 ônibus, conseguirei os quinze reais para minha fisioterapia"
Sei lá.
Achei muito personagem. Muito ligado ao dinheiro, fazendo contas.
Conclui que ele devia estar jogando e, apesar de 5 centavos na mão, fingi que estava dormindo quando ele passou por mim.
Eliminado.

25.10.09

Confissão: Sou Viciada em Papel Machê

O papel machê é uma atividade simplesmente fascinante.

Com ele, você pode criar um mundo inteiro, utilizando apenas três ingredientes bobos, que temos sempre em casa. (Um deles, inclusive, que você já ia mesmo jogar no lixo: o jornal velho. O outro, você ia limpar você sabe o quê. - o papel higiênico.)

Como membros de uma seita, os viciados em papel machê têm a certeza mística que podem mover o mundo.
E realmente podem.
A qualquer momento, esses iniciados são capazes de fazer materializar qualquer coisa apenas no tempo da cola secar.
É só imaginar e mentalizar.
Como nos livros de auto-ajuda.

Ontem, por exemplo, eu precisava desesperadamente um iglu de 30 centímetros de diâmetro.
Ora, ora, que lojas americanas me dariam isso às 3 da tarde de um sábado?
Que indústria teria pensado tão individualmente num consumidor?

Somos todos habitantes do terceiro milênio, clientes exigentes e vorazes, que estamos aquecendo um planeta inteiro só porque precisamos muito-muito-muito daquele novo modelo de sei-lá-o-quê.

Em necessidade urgentíssima de um iglu, das duas uma:
- ou nos sentimos de mãos atadas, dependentes de algo feito na China,
- ou deprimidos, tão mal-acostumados com as coisas prontas, que não conseguimos mais acreditar que uma vasilha de sorvete virada de cabeça pra baixo possa ser um iglu.

Daí, o papel machê para nos salvar.
Ele é a resposta. O meio termo entre o a improvisação e a indústria de ponta.

Agora, sábado à noite, posso dizer:
"Eu tenho um iglu!"
Só falta pintar. É muito poder, não é, não?


Aí, está ele depois de riscado. (ok, tem um borradinho ali à esquerda, mas esse é o charme dos customizados)

E abaixo, com pintura.

P.S: Já tentei de tudo para me livrar desse vício, mas já não há retorno. Gotas de tinta branca que se eternizam no meu taco de madeira.

Abaixo, algumas das minhas criações dos últimos anos. Malévola e Bela Adormecida e seu castelo maravilhoso.


Receita de Papel Machê:
Molde sua idéia com jornal.
Acrescente detalhes de papelão ou com embalagens (esse castelo aí de cima é cheio delas).
Faça camadas de papel higiênico, ou jornal, ou papel toalha (dependendo da textura que você quer dar para a superfície).
Cubra com cola misturada com água, em partes iguais.

p.s: é claro que esse post foi secretamente elaborado para mostrar minhas habilidades artesanais para vocês. Exibida, não?

21.10.09

Jogo dos Sete Erros - Áustria ou Curicica?


Dois cenários tão praticamente idênticos que fica até difícil diferenciar.
Observemos a foto:
- A turista parece a mesma.
- O nível de satisfação da turista incrivelmente parece o mesmo.
- A grossura do casaco da turista incrivelmente parece o mesmo.
- A máquina fotográfica da turista também parece a mesma!
Ok, ok.
Digamos que os gerânios amarelos não passem no teste do Imetro para edelweiss.
E que essa grama sintética não faça muito o gosto das vaquinhas alpinas.
Mas vá lá!
Assim também já é preciosismo, né!

- As fotos foram feitas durante a gravação de uma versão chanchadesca de "A Roliça Rebelde", para o Zorra Total, com Leandro Hassum no papel-título.
Assistam em:

Aqui, com minha bonequinha de luxo e parceira na autoria do esquete supracitado, Nat Klein.

DICIONARIO DE CECILHÊS - O idioma fofo da minha filha de 5 anos

- Mãe, as pessoas quando casam vão para a nua-de-mel, certo?

Não é que faz sentido?

Mais neologismos dessa nova Houaiss da língua portuguesa em:
http://angelicalopes.blogspot.com/2008/10/dicionrio-de-cecilhs-o-idioma-fofo-da.html

http://angelicalopes.blogspot.com/2008/04/dicionrio-cecilhs-hipo-o-qu.html

6.10.09

Vi passarinho verde e não gostei. A Natureza novamente contra mim.

Quando o mundo era simplesmente o mundo e éramos movidos apenas por nosso instinto de preservação da espécie, os seres humanos tinham medo de coisas como onça pintada e trovão.

Mas assim que o mundo foi acimentado, a natureza passou a nos amedrontar com bichos mais discretos. Um mosquitinho da dengue aqui, uma salmonela no croquete ali, e, claro, os passarinhos da minha janela.

Todo ano, sem falta, eles se abancam. Nem são os mesmos. Coisa de indicação. Parece que o vão do ar-condicionado do meu quarto está em algum guia Michelin dos pássaros, com seis estrelas no quesito conforto para reprodução.

Eles fazem ninhos elaboradíssimos e põe ovos, sem fazer alarde, e só quando os filhotes clamam por comida, me dou conta da invasão.
Você, amante dos animais que me lê agora, dirá:
"Ó, mas eles são tão fofinhos..."
"Ó, mas eles são uma família..."
"Ó, mas é o milagre da natureza na sua janela!"

Ao que eu responderei:
"Mas por que logo no meu quarto?"
"Mas por que eles podem procriar se eu não posso dormir?"
"Por que tenho permissão para devorar galinhas, vacas, patos e doces coelhinhos asssados, aniquilar baratas, moscas e aranhas com uma chinelada, e não posso derrubar uns ovinhos do 4 andar?"

Acontece que meu instinto assassino vai decrescendo de acordo com o relógio.
Às cinco da manhã, sou uma primata das savanas, que grita, urra ameaças, jura vingança assim que limpar a remela.

Às oito, acordo de mau-humor, mas já consigo ver um lado bom: não perdi a hora. Eles são meu novo despertador.

De volta pra casa, ao ver papai e mamãe-passarinho indo e voltando com comida para os filhos, me comovo e juro desistir de meus planos de extermínio.

Hoje, porém, eles abusaram da sorte, me dando um vôo de ataque rasante estilo kamikaze, só porque abri a janela do meu próprio quarto.

Em represália, decidi cutucá-los com a vassoura e, durante a manobra, para qual não tenho qualquer treinamento, quase matei o porteiro que estava lá embaixo.
Vejam só: para proteger um passarinho, eu quase matei o Zé!

Diante do paradoxo de colocar em risco a própria Humanidade, pelo bem-estar de um bicho de 10 gramas, encontrei um meio termo que não atormentará a minha consciência.
Deixei o ninho no limite da queda e vou viajar por três dias.
Eles que ensinem os filhos a voar nas próximas 72 horas!
Senão...




p.s: Ah, sim, a vista da minha janela é mesmo cor-de-rosa. Sorry.
p.s2 : Vejam a última temporada do seriado "Eu mato passarinhos", em:
http://angelicalopes.blogspot.com/2009/01/insnia-e-crueldade.html

p.s3: Momentinho blog é cultura. A expressão "O QUE FOI? VIU PASSARINHO VERDE?"(que eu não concordo, obviamente) tem sua origem no seguinte costume: no século passado, namorados adestravam periquitos para levar cartas de amor para as namoradas, burlando a vigilância dos pais da donzela. ai, ai.

5.10.09

Mais uma da Sessão: "A Culpa é Toda Minha, Agora não reclama."

Estava eu na platéia do espetáculo circense "Oceano", (da Cia. Pia Fraus, direção do Hugo Possolo/Parlapatões), admirada com o que uma pessoa é capaz de fazer com os próprio corpo se não passar três décadas comendo jujubas e vendo séries da Sony.

Jurando que assim que chegasse em casa, tentaria alongar pelo menos as minhas costas e me consolando com o fato de não ser a pior ali, já que minha amiga Lúcia tinha reclamado das escadinhas que a gente precisava subir para se chegar a lona. E o Selton Mello comia pipoca na primeira fila.

Minha filha, admirada com a trapezista vestida de golfinha rosa, me cutuca.
Fiquei esperançosa. Crente que ela ia pedir para ingressar na Débora Colker no dia seguinte.
- Oi, amor?
- Mãe, olha o braço da moça. É a Índia do No Limite?
E depois, meio entediada:
- Por que eles não falam nada?

Ai, ai.
É outra que vai pelo mesmo caminho, coitada. Culpa minha.

- Tinha 300 pessoas numa fila ao ar livre. Uma delas foi brindada com cocô de gaivota na cabeça. Devo me sentir a escolhida?

- Pia Fraus é o Circo de Soleil brasileiro. Só que com ingressos a menos de 200 reais, espetáculos que não duram quatro horas e sem merchan Bradesco. Aí a gente encara.
Eles são maravilhosos, sério: http://www.piafraus.com.br/

- Confissão: Quando eu morava em SP eu era seguidora do Hugo Possolo e dos Parlapatões . Não perdia um espetáculo da companhia. Sorte deles que me mudei. Ia acabar dando uma de Misery.
Eles são maravilhosos, sério: http://www2.uol.com.br/parlapatoes/home/index.htm

(pergunta: o fato de eu ter que colocar "sério" após as indicações mostra a minha falta de credibilidade comigo mesma ou que eu sou uma chata que nunca elogia ninguém? Opa, nem precisam responder)

2.10.09

O lado certo do papel higiênico. Sim, ele existe.

Amigos são pessoas muito úteis mesmo.
Outro dia, uma amiga saiu do banheiro da minha casa dizendo:
- Seu papel higiênico estava do lado errado, mas eu já consertei.

A revelação foi um choque.
Como assim?
- Papel higiênico tem lado certo?
Ela me olhou com desprezo:
- Não acredito que você não sabe disso...

Não, eu não sabia.
Havia passado minha vida inteira sem saber de um detalhe que parecia tão óbvio para os demais presentes, que agora faziam aquela cara de "santa ignorância!" para mim.

Nunca, nunca, em toda minha existência, eu tinha reparado que: ou puxamos o papel higiênico por cima ou por baixo. E que o certo, pra quem não sabe, é por cima.

Sem querer dar o braço a torcer, me fiz de rebelde.
-Quem fez essa regra? Por que é o certo? Por que preciso seguir esses padrõezinho pré-estabelecidos?

Mas a descoberta me fez refletir sobre como o conhecimento adqüirido nos faz perder completamente a inocência.
Tipo Platão e seus homenzinhos na escuridão da caverna.

Depois que passei a saber que existe um lado certo,
simplesmente não consigo colocar mais do lado errado.
Uma maldição.
Como uma vítima de Transtorno Compulsivo Obsessivo, fico checando banheiros alheios, virando papéis colocados por pessoas inocentes que só fizeram aquilo porque, assim como eu, não sabiam o que estavam fazendo.

Fico avisando para todo mundo (esse post inclusive cumpre essa função) que o papel tem o lado certo, querendo dividir minha descoberta genial, mas todos com quem falo me olham com pena, fazendo "tsc, tsc".
Exatamente como eu fiz, anos atrás, quando um amigo veio me informar:
"Sabe aquela música "uma barata chamada kafka", dos Miquinhos? Parece que tem um livro com essa história..."
Castigo.

p.s: Fui buscar embasamento científica sobre o assunto e aí estão os perigos de se colocar papel do lado errado: