30.9.05

Ofício de Escritora: NOMES DOS PERSONAGENS - Qual o problema com Kléber?

Batizar um personagem é como escolher o nome de um neném.

Durante a gestação, a gente pesquisa, muda de idéia, sofre, experimenta, quer desistir na última hora, enlouquece.

Escrevemos 10 páginas chamando alguém de Alfredo, até que num impulso louco de control+substituir+all, ele passa a se chamar Guilherme. Ou Vincente. Ou Marcos. Ou José Crispim. Ou Teófilo da Silva, Pereira, Moreira, Martinelli, Sabaroski... O céu é o limite.

Assim com mães corujas, nós escritores sempre queremos que:
1 - o nome não seja bobo ou sem graça e que diga algo sobre sua personalidade ou origem.
2 - o nome não seja muito popular ou parecido com o de algum personagem famoso, o que demonstraria nossa total falta de imaginação. Nesse caso, João e Maria, Romeo and Juliet estariam fora de cogitação.

É por isso que nas novelas, que trazem 40 personagens de uma só vez, ouvimos nomes quase esquecidos no tempo: Atílio, Ambrosina, Alcebíades. Isso só para citar a letra A. Belmira, Bernardina, Bóris. Letra B. Mesmo nas tramas urbanas ou contemporêneas.

Uma vez, fiz um documentário no interior do Brasil, e me dei conta que a maior parte dos nomes brasileiros são:
- 1 opção: de origem bíblica - incluindo-se nesse grupo santos, apóstolos e profetas, Isaías, Ezequiel, Josué, Tomé, Matheus...

- 2 opção: criativamente inventados, abrasileirados, releituras de nomes estrangeiros como a série Maikon, Maicol, Maicon - uma das campeãs nos cartórios, ou livres associações como Rosemíriane, Valdilúcia, e por ai vai.

Num dos meus livros, quis colocar um personagem chamado Kléber, que seria o mocinho romântico.

O príncipe encantado equivocado já se chamava Bruno (para mim, Bruno é nome de garoto bonito. Não me perguntem porque.) e o garoto mais apagadinho e aparentemente mais sem graça se chamaria Kléber, com K mesmo, pois eu acho esse nome meio bronco (me desculpem os Kléberes), e era justamente essa a idéia, tipo Heatcliff.

E o que aconteceu?
Todas as pessoas (100%, unanimidade total) que leram meu original antes da publicação disseram: "Gostei da história, mas acho que aquele personagem não devia se chamar Kléber"
Ou então:
"Por que Kleber? Você está querendo derrubar o personagem? Criar rejeição do público?"
Fiquei passada!
Quantas pessoas lindas, maravilhosas e interessantes se chamam Kléber neste mundo!?
Aquilo era um total preconceito.

Angélica também é um nome meio esquisito, que traz uma carga do Bem, assim como Vitória, Esperança, Cândida, Amanda...

Nomes que tem uma virtude no radical, acreditem em mim, são meio pesados de carregar. Prato cheio para reducionismos óbvios, como anjinho, anjo, angelical, essas coisas. blargh.

Lutei por Kléber quase até o fim. Mas a unanimidade de opiniões me assustou e acabei cedendo. Na última página, dei um substituir+all para Rogério (que também cumpria a função de ser um nome meio sem atrativos) e rebatizei o rapaz.

Mas até hoje quando penso nele, o primeiro nome que me vem é o original. Lá no fundo, sei que esse tal de Rogério não passa de um impostor.

CONFISSÃO 1: Todo escritor é rato de lista telefônica e dicionário de nomes.

CONFISSÃO 2: Minhas próximas personagens já têm nome: Karine Amorim, Mychelle Lemmos, Alana Cris e Janaína Schmidt. Qualquer discordância sobre eles estão terminantemente proíbidas neste Blog!

CONFISSÃO 3: Quando descobri que o significado de Cecília (nome da minha filha de carne e osso) era "CEGA ou ESCURA", quase desisti, pensando que ela poderia nascer com uma míopia gigante só por causa da minha escolha infeliz.

Mas depois pensei: Essa é a tradução do etrusco (língua de origem do nome). Mas em tupi é Mãe. E, a partir do nascimento dela, pode virar sinônimo de "garota muito fofinha" em português.

21.9.05

Porque estou PO-DRE de cansada

Que estrago mental pode sofrer uma pessoa submetida a um vôo lotado e atrasado da Gol, com saída do longínqüo Galeão, em que ela vai espremida, entre dois indivíduos antipáticos, tentando disfarçar com sorrisinhos e conter na força do bíceps direito(que ela não malha há 1 ano e meio), uma criança cheia de energia, de também exato 1 ano e meio, sempre tentando evitar que:
1- o bebê babe no senhor ao lado, que parece ser o conferencista-mor do congresso a que todos os passageiros estão se dirigindo.
2 - que os bichinhos little people carissímos e recém-comprados rolem muitas poltronas à frente da sua fileira.
3 - que o bebê chore ou tenha medo durante a turbulência

E, após aterissagem, encontrar SP a 14 graus, sendo que o bebê em questão está sem casaco, e, por uma infeliz coincidência, também está com a calça molhada, uma vez que a única maneira que você encontrou de mantê-lo calmo durante a turbulencia foi afogá-lo em água de coco e suco del valle de manga oferecido pelo serviço de bordo.

E, já no táxi, descobrir que a Av. Pedro Álvares Cabral está com o trânsito congelado por causa de uma manifestação contra o Severino Silva, em frente a Assembléia Legislativa, e que todo o batalhão de choque da polícia de SP está lá para garantir a ordem, e que, na melhor das hipóteses, haverá ainda uma hora até o destino final.

E, tudo isso, claro, cantando "alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado", a despeito da presença dos conferencistas, do táxista, dos manifestantes e do batalhão de choque.

E, ao chegar ao lar doce lar, antes mesmo de fazer xixi, ter que tranqüilizar as vovós preocupadas com o sumiço do bebê.
E ainda levar uma puxada de orelha do do pai do bebê por não ter tido tempo de pagar a conta do celular dele.

bandeira branca amor, não posso mais.

18.9.05

Fiz fotos modelo-manequim!!!!


Baby-bliss no cabelo (estilo Gisele, lógico), fotógrafo e maquiador profissionais, e muita cara-de-pau. Lá estava eu, uma escritora, que no dia-adia faz o estilo tímida de oclinhos, fingindo ser uma diva, uma pop star, uma deusa poderosa.

Tudo pela orelha do meu próximo livro, que por esse relato vocês já podem imaginar o tema.

AMEI.
Foi uma experiência cósmica. Quem nunca sonhou estar ali, diante dos refletores fazendo caras e bocas? Que atire a primeira pedra.

O fotógrafo, meu super amigo Marcos Hermes, que faz várias capas de discos (Caetano, Sandy e Junior e muitas mais) me orientava:

- Angélica, faz bico de nojenta. Finge que você tem 1,80 e é a dona do pedaço...

Eu tentava, juro, mas meu bico de nojenta parecia mais um beijinho singelo. Além disso, só tenho 1,58!!

Num último recurso, ele tentou me demonstrar o bico:
- Faz assim ó...

Mas, tragédia: eu estava sem óculos!

Até que o brilhante maquiador Lulu deu a solução:
- É só você sussurar a palavra alface sem abrir muito a boca.

E não é que dá certo?
tente você: baixinho, devagarinho .... Al.. fa.. ce...

GENIAL, né?!

Será que é por isso que NÓS modelos (agora me incluo no time) gostamos tanto de alface????
Acho que sim!

6.9.05

MINHA MAIOR NEURA: MUDANÇA

Sabe-se-lá-por-que, sou uma pessoa que fica completamente histérica com qualquer mudança. E quando eu digo qualquer, é qualquer MESMO. A troca de um móvel de lugar, a eleição de vereador, a virada de um ano, um corte de cabelo.

No meu mundo ideal, aliás, nada aconteceria. O vento não sopraria, ninguém falaria nada, o silêncio seria total e absoluto. Tudo, inclusive e principlamente eu, ficaríamos ali, paradinhos, completamente estátuas e sossegados.

Mesmo assim, indo totalmente contra minha natureza, eu já mudei:
- 4 vezes de apartamento
- 1 vez de estado civil
- 5 vezes de emprego
- 2 vezes de profissão
- 2 vezes de cidade
- 1 vez de status (acrescentei mais um indivíduo à minha árvore genealógica, e passei de filha da mãe para mãe da filha).

A raiz do problema pode estar num trauma de infância: quando na segunda série primária, eu mudei de bairro e, consequentemente de escola, bem no meio do ano letivo, e toda a turma se uniu para me bater.

A astrologia também dá sua explicação: a culpa seria do signo de escorpião, que carrega um veneno mortal na ponta da cauda, sempre sobre a cabeça, e por isso, encara cada mudança como uma espécie de morte.

Daí, vocês perguntam: por que diabos ela está falando disso agora?

Eu respondo: Porque estou prestes a fazer mais uma mudança radical e o alerta de “Perigo! Você vai surtar a qualquer momento!” está piscando bem na minha frente!

Somebody help me!

p.s: Ah, e antes que eu me esqueça, é preciso dizer que, apesar de toda a neura, assim que a fase de transição passa, eu sempre acho que foi bem melhor mudar.

5.9.05

Quem tira um siso ganha juízo?

Tirei meus derradeiros e dois últimos sisos, na última terça-feira, pelas mãos fofas da Dra. Débora querida, que aplica a anestesia, pedindo desculpas pela dor proporcionada.

Lado bom: tomei sorvete todo o fim de semana.

Lado ruim: criei juízo em dose dupla.

Lado maravilhoso: nunca mais terei que passar por essa experiência.

Lado terrível: minha boca está com gosto de sangue + pontos de sutura.
argh