29.1.09

Vida selvagem

Os passarinhos do meu ar-condicionado finalmente foram embora,
porém,
no dia seguinte, apareceu um gambá, não no ar-condicionado, mas na árvore em frente, mortalmente ferido com uma mordida de mico na cabeça.

Olha o coitadinho na foto acima, todo zozó, depois da briga.

Acho que nunca morei numa vizinhança tão violenta.
A lei da selva impera na minha rua.
Hakuna matata!

Não se deixe enganar...

Se, de repente, um desconhecido que você nunca viu antes, lhe disser, fazendo charme e subindo a sobrancelha:
- Uau, hoje você está parecendo uma pintura barroca...

Não caia feito um Alejadinho de muletas, achando tratar-se de um elogio.

O sujeitinho não está querendo dizer que você é uma obra de arte ou um anjo caído de Ouro Preto - só encontrou um jeito de te chamar de gorda sem levantar maiores suspeitas.

As reproduções de Vermeer (acima) e Rubens (abaixo) não deixam dúvidas sobre os arredondados padrões de beleza renascentistas.
Numa mesma frase, seu interlocutor conseguiu não apenas te esculhambar, como ainda passar por grande conhecedor das artes. E pior: está certo de que você está feliz com a comparação e ainda vai achá-lo ilustradíssimo.

Meu recado vai em linguagem não-pictórica, com contrates fortes, cheios sombra, bem ao gosto da época:
-- Vai pro Caravagggio, meu filho! Barroca é a mãe!

P.S: Homens, atenção: nunca, nunca, nunca, jamais, em hipótese alguma, digam que uma mulher engordou.
Nem que ela seja uma pintura de Botero.
Simplemente não diga.


Outra lembrança:
A musa lá de cima, de vermeer, foi intepretada no cimena pela musa (da vez) de woody allen, scarlet johanson, que de barroca não tem nada.

8.1.09

A insônia e a crueldade

Quantas noites sem dormir até sermos capazes de matar bebês-passarinho?

Um zeloso casal de sabiás considerou o vão do meu ar-condicionado um ótimo lugar para criar os filhos.
Um condominio de luxo com ronco de motor para ninar filhotes, parapeito contra chuva e localizado a poucos metros do galho mais próximo. Sonho máximo da classe média sabiazense.

Mas esse delicado ninho, com gravetinhos cuidadosamente escolhidos, milimetricamente posicionados, escorregou na falta de sorte ao ser construído atrás da parede de uma moça que, mesmo incapaz de matar filhotes, realmente precisa dormir.

Há três madrugadas, tenho delírios agitados pela piadeira das 5, imaginando estar empurrando os bebês.

Há três dias, abro a janela decidida a fazer algo que não sei bem o que é. Pego o cabo de vassoura e eis que eles aparecem: os pais - o casal de sabiás dando rasantes desesperados na frente da minha janela para tentar me impedir do crime.

A pergunta é: até quando?
Aqui, um dos progenitores dos bebês, em vigília , fazendo guerra de nervos comigo.