14.5.09

Gripe Suína e a Vergonha da Minha Máscara Cirúrgica

Pode parecer pitoresco para quem tem menos de 30 anos.
Mas em priscas eras, mais precisamente nos anos 80, as fármácias não tinham produtos expostos em gôndolas no estilo self-service de hoje.
Muitos artigos altamente constrangedores, como absorventes íntimos, camisinhas, fraldas geriátricas, tinham que ser pedidos assim, na lata, encarando o balconista.
- Pois, não? - ele perguntava, quase adivinhando do que se tratava pela cor de suas bochechas em tom carmim.
- Hã.... ehh... hum... Nada não.
A maioria saia correndo.
Ou fingia estar com dor de cabeça e comprava uma aspirina (naquela época não tinham inventado a neosa, minha deosa, e o ácido acetilsalicilico dominava as paradas de sucesso)
Levava séculos até que uma adolescente, ordenasse, com segurança:
- Ei, você aí, me vê três pacotes de Sempre Livre!
(naquela época, ainda não tinham inventado o Intimus Gel, com suas 70 variações, com aba, sem aba, supeseca, seca e suave, e a gente tinha que se virar com três opções: sempre livre, moddess (que batizou o termo) e o terrível: Ela!, que só tinha uma linha adesiva vagabunda que vivia descolando.
Mas vou poupar vocês dos detalhes sórdidos dos meus ciclos do passado, afinal, esse post não é sobre aqueles dias, e sim sobre o fenômeno chamado "Vergonha Do Balconista Da Farmácia".
Que também se estende a outros tipos de comércio, claro:
- Moço, o corpete de tachinhas, com coleira, tem no meu tamanho?
- Que tipo de metralhadoras vocês têm, hein? Alguma em promoção?
- O chicote dá para parcelar em quantas vezes?
(espertos foram alguns laboratórios de análises clínicas que recentemente passaram a oferecer potinhos brancos, em vez dos transparentes.)

Ontem, tive uma greve crise da Vergonha do Balconista,
que não me aflingia desde 1984, quando o absorvente "Ela" ela saiu da minha vida.
O caso é que vou viajar daqui a 20 dias.
Não para o México - mas para 4 países, em que farei 6 viagens de avião, num total de muitos aeroportos, que nada mais são do que confluências infectas de vírus vindos de todo planeta.

- Quem poderá me garantir que o alemão ao meu lado no check-in em Munique não acaba de chegar de Cancun?
- ou que no corrimão da escada rolante em Londres não há um vírus trazido por alguém do Texas?
- ou que a inofensiva senhorinha de Portugal que me vende pastéis de nata não tem um neto que mora em Miami e está passando uma temporada com ela?
Quem? Quem?
Eu digo: A máscara cirúgica bico de pato.
Só ela salva.
Aos críticos que me julgam, eu pergunto:
Por que não? Just in case. Só para ter na bolsa. Tipo um rivotril de segurança.
O único inconveniente é pedir. Enfrentar o julgamento do balconista que, das duas, uma: vai te considerar neurótica ou infectada.
Em ambos os casos, além do desprezo, ele fará de tudo para se esquivar de você. Coisa que magoa e eu tenho sérios problemas com a rejeição.
Na primeira farmácia, nem olhei para o funcionário:
- Máscara cirúgica. - falei seca, meio para dentro, como uma senha.

Na segunda, pedi com raiva dos espertinhos que acabaram com o estoque da farmácia anterior. Os sem-vergonha agora estavam mais a salvo da gripe suína do que eu:
- Tem ou não tem, meu filho?
Na terceira, adotei um tom festivo. Afinal, se todas as pessoas da cidade estavam comprando máscaras cirurgicas, eu seria apenas mais uma:
- Oi, tudo bem?!! Aquelas máscarazinhas da gripe, do porquinho. Que estão aí nos jornais... Tem?

Na quarta, tentei fazer a linha investigativa:
- Mas me diz uma coisa: "não tem" porque vocês nunca tiveram ou porque o pessoal já levou tudo?

Na quinta, já descrente quanto ao futuro da humanidade, antecipei a negativa:
- Acabou, né? Pois é. Pessoal não perde tempo. Não tem previsão para chegar, não, né? Sabia.

No dia seguinte, me mandei para uma loja de artigos médicos e lá adquiri TRÊS lindos exemplares: a superultramaravilhosa bico de pato, de 7 reais, que nao passa nada, nem o bacilo da tuberculose (ufa! bom saber - foto acima), e outras duas decorativas, de 0,50 cada (foto abaixo). Uma delas, zelosamente reservada para um quase impossível interesse do Pedro.

Só que em vez de ficar tranquila após minha aquisição, uma ansiedade vem crescendo desde então:
Como uma pessoa que tem Vergonha do Balconista vai ter coragem de ficar circulando em aeroportos internacionais com uma máscara cirúrgica na cara?

Assim que eu colocá-la, alguém provavelmente vai achar que estou doente e me levar para algum isolamento eterno, numa quarentena de filme de ficção.
Pedro terá sua vida de volta e eu ficarei para sempre, vagando em hospitais europeus, prisioneira de uma suspeita, talvez já infectada por meus companheiros de cela.
Já posso ver as manchetes dos jornais:
Brasileira mascarada desaparece sem deixar rastros

Triste fim.
Bons tempos em que eu só me preocupava com a opinião um jovem balconista.
Bons tempos em que passar um repelente contra a dengue era um ato invisível e aceito socialmente.


P.S: Porco nunca foi meu forte. Vejam esse post de 2005!

5 comentários:

Bizoca disse...

Eu acho que gripe é gripe. E todas podem matar. A diferença da suína prás outras é que é nova e então as pessoas ainda não tem imunidade, nem existem vacinas ainda disponíveis. Mas ainda assim é gripe. Se você é uma pessoa saudával, bem alimentada, com o sistema imunológico em dia e está num país onde o serviço médico é decente, não acho que precisa se preocupar tanto assim. Estando saudável, as changes de pegar são mínimas e tendo acesso a um sistema médico decente, as changes de curar são grandes. No México é diferente... Ainda não tá provado que essa gripe mata mais ou menos que as outras. Então eu a vajo simplesmente como uma gripe qualquer. Tou aqui no meio desse povo neurótico e ainda assim ando sem máscara, lavo minha mão pelo tempo que acho necessário dependendo do nível de sujeira (tem cartazes em todos os cantos ensinando a lavar mão: tem que ser por de 10 a 20 segundos e cheio de truques... imagina se eu correndo entre reuniões, cheias de coisas a resolver vou fazer um xixizinho rápido e depois perder meio minuto esfregando minha mão feito uma louca prá limpar uma gotinha de xixi na pontinha do dedo!!!) Talvez isso me ferre depois e eu caia doente no hospital. Mas se não cair doente, pelo menos passei esse tempo todo sem estresse desnecessário...
Mas cada um sabe de si. Se você vai se sentir mais segura com a máscara. Vai lá, usa onde for e dane-se o que os outros podem vir a pensar de você. Afinal, sua saúde (física e mental!) é prioridade! ;o) Boa viagem!!!

Anônimo disse...

Caramba! Eu tenho máscaras cirúgicas aqui...rsrsrs
trabalhava com isso...Xiii, não conta pra ninguém! rsrs
Te adoro, Angel!
Fica tranquila!!!

Angélica Lopes disse...

Aquela lá de cima é minha irmã,
que vive há uns 5 anos no meio do povo mais neurotico do planeta.
beijos, bizoca!

Taaan disse...

KKKKKKKK, tipo, eu tava andando por blogs, e achei o seu no d uma amiga, eu rachei com esse post :D Tipo assim, muito legal .----.

Bizoca disse...

Correçãozinha básica.
Moro aqui tem 8 anos e meio!!!
E pela primeira vez estou sentindo calor de verdade. Hoje tá fazendo 40 graus sem precedentes na história da região!
;o)
Beijão