6.7.05

Paranóia Suína


Juro por Deus que não sou hipocondríaca
(podem perguntar pra minha mãe, essa sim,
uma expert em doenças), mas tenho uma paranóia
completamente ridícula que é a seguinte:
Se algum desconhecido me oferece

carne de porco, eu saio correndo,
negando veementemente, achando que vou
pegar aquela doença dos bichinhos que se alojam no cérebro.

Lembram deles?
Os terríveis cisticercos, das aulas de Ciência?
Uma espécie de alien que começa a crescer na nossa cabeça até
ficar do tamanho de uma laranja e controlar
nossa mente?

Eu sei que v
ocês -- que também assistiram
à essa aula de Ciências -- vão dizer:
Número 1 - nem todo porco está contaminado,
Número 2 - se a carne estiver bem cozida não tem problema...

Mas, como afinal de contas, a gente pode ter certeza?
É tipo HIV, não dá para simplesmente
confiar e arriscar.

E, como ainda não existe nenhuma camisinha
para colocar no estômago, acabo dando
alguma desculpa ao anfitrião:
digo que estou de dieta,
sem fome, enjoada, que sou vegetariana,
que minha religião nao permite, enfim,
invento qualquer coisa.

O problema é que o Pedro não tem essa paranóia.

Toda vez é a mesma coisa: ele devora tudo,
fazendo "hum, que delícia"
e eu ali do lado, tensíssima, achando que
cada garfada é uma sentença.
Já me imaginando no hospital,
fazendo companhia ao moribundo.

Nesse fim de semana aconteceu de novo.


Fomos almoçar numa espécie de restaurante da fazenda e,
chegando lá, o prato principal era Leitão à pururuca.

Os olhos do Pedro chegaram a brilhar de alegria,
enquanto os meus faziam uma rápida inspeção no local,
procurando pistas e outros argumentos
para convencê-lo a NÃO comer.

"Será que eles criam os porcos seguindo as
regras do Inmetro por aqui?"

"Será que eles passariam no teste do Fantástico?"

"Será que esse porquinho ficou MESMO 8 horas no forno?"

Mas não adiantou nada. Óbvio.
Ouvi apenas um:
- "Você tem que deixar de ser tão trágica...",
já com a boca cheia.

Naquela hora, pensei que talvez ele tivesse razão,
e, com muito auto-controle, passei o resto do almoço
tentando pensar em coisas belas:
a natureza do local, a piscina aquecida, o canto dos passarinhos.

Mas horas depois,
quando Pedro esqueceu a minha carteira
com todos os meus documentos e cartões dentro,
e nos obrigou a fazer a mesma viagem novamente,
na quarta-feira, só


para buscar a carteira, não tive dúvidas:
eram ELES, os cisticercos, que já estavam
começando a fazer estrago
na mente do meu amor!






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