
Morten Harket, vocalista do A-ha, está tão feliz em seu show no Rio,
You´re a great audience, thank you, que resolve pedir um mimo à platéia:
- Come on! Clap your hands!
Na casa de shows, só fãs, do tipo que jamais negariam um pedido ao seu ídolo maior.
-Come on! - Morten, incentiva, diante da aparente timidez do público.
E nada.
Nem um clap.
Ninguém nem tchum.
Meio sem graça, o bonitão nórdico dá um olhar cúmplice para o tecladista, como quem diz "acho que eles não entendem mesmo inglês" e começa a bater palmas acima da cabeça. Gesto que até os bebês compreendem e que significa: "Será muito humilhante se vocês continuarem se negando a fazer isso por mim".
E, mesmo assim, ninguém se mexe.
E eu lá pensando:
-- Poxa vida, o cara vem da Noruega, tocar no Via Parque, e ninguém é capaz de fazer a felicidade dele?
Foi aí que eu, uma blasé convicta, que nunca bate palmas quando o cantor manda, que ouvia o A-ha há MAIS 20 anos só por causa da minha amiga Andrea Vianna e que apenas vagamente me lembro das letras das músicas, fico com pena do pobre Morten e começo a bater palmas em cima da cabeça, e acho até, que - num gesto de solidariedade digno dos grandes mártires da humanidade -, chego a balançar os braços e fazer um "urúú."
Mas Morten não me ouviu. Apenas desistiu de tentar interagir. A pláteia não podia bater palmas.
Estava de mãos ocupadas, filmando vídeos escuros em que o personagem principal é a cabeça de quem está na frente, e tirando fotos terrivelmente fora de foco que serão todas deletadas depois.
Sim, senhores: os celulares trouxeram o impensável fenômeno do fim do show ao vivo. Atualmente, o público in loco prefere colocar um intermediário entre si mesmo e o artista, no único momento em que o contato poderia ser direto. Fãs na primeira fila agora assistem a tudo atráves do visorzinho minúsculo do celular.
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Não sei se tal fenômeno se dá porque...
- cada um quer ter sua própria edição do show,
- ou se o registro ficou mais importante do que o momento,
- ou se as pessoas querem apenas provar que estiveram lá.
Quando, na verdade, não estiveram.
p.s: Como vocês podem notar, eu também tenho celular com câmera, com o qual tirei as fotos acima, mas juro que foram só duas e rapidinhas. Vi o show com os meus próprios olhos. Afinal, não fiquei duas horas no trânsito para ver tudo em escala 3x4.