15.7.08

Ousadias vermelhas pelas Leis da Física

Eu, como todo corpo em repouso, como toda partícula desse mundo, tendo à inércia.
Por se tratar de Física Pura, coisa comprovada cientificamente, não me culpo por essa minha inaptidão para fazer as coisas acontecerem, já que estou no meu direito de Corpo em Equilíbrio.
Sei que tem gente que dá viradas na vida, retorce tudo, muda e sobrevive, faz plástica, tinge o cabelo cabelo. Eu queria. Juro. Mas, para mim, está tudo tão na prateleira lááá de cima... E os banquinhos para alcançar a última prateleira estão sempre lááá na área... E a área está sempre tããão depois da cozinha... E a cozinha...

Mas a natureza é dinâmica, ainda bem. E, de vez em quando, o corpo X em repouso recebe uma Força F e aí - se não tiver atrito, meu bem - começa a pipocar pelas paredes feito bola de pinball.

A recente Força F que me impulsinou foi a queda de dezenas de livros em cima da minha cabeça, numa madrugada.

Eu sou escritora. Tenho mais de 500 livros em casa, mas, curiosamente, há 3 anos, meu escritório não tem estante. Fenômeno só explicável mesmo pelo princípio da inércia. Me mudei, não sabia se ia ficar muito tempo no apartamento, o armário era embutido, já estava lá mesmo, "ah, vamos enfiando os livros aqui mesmo", e lá estavam eles até semana passada acomodados em pilhas perigosssímas, estilo Jenga, de dois metros de altura, dentro de um móvel planejado para guardar vestidos e calças.
Fui tentar uma manobra arriscada, pegar um livro no meio da pilha, e veio tudo em cima de mim, iniciando o efeito Corpo em movimento que me fez ir lá na loja de moveis planejados, me endividar por 10 meses, sendo que estou no negativo do banco. No dia seguinte, já tinha tirado os 500 livros do ármário, no outro, alguém estava desmontando tudo, enquanto eu obrigava o Pedro a pedir mais um ponto de Tv para a Net.
Numa agilidade tal que, agora, não consigo parar. Afinal, a inércia do movimento também é difícil de controlar. Precisa de uma árvore ou um muro no meio do caminho.

No auge desse meu desembestamento, na ansiedade de quem sabe que esse ímpeto de resoluções é apenas temporário, decidi pintar uma das paredes do escritório de uma cor, que não fosse branca. Essa decisão, para mim, meus caros, equivale a optar virar uma go-go girl amanhã, depois do trabalho. Muita ousadia. "Sair do branco? Que louco!"

Foram noites e noite no site da suvinil. Meu amigo Luciano chegou a me deixar insegura: "O laranja está ultrapassado. O amarelo está muito batido. Prefiro roxo berinjela..."
Mas como alguém pode escrever um livro olhando para um roxo berinjela?
Hoje, ele se defende, dizendo que era "roxo beterraba", mas mesmo assim, deprime.
Foi então, que radicalizei: VERMELHO.
Cor vibrante, apaixonada, como estou agora, impulsionada por essa força F, de quem diz "Eu sou F..., eu consigo ter um escritório. Não preciso ser soterrada por livros !"

A lata chegou hoje.
Reparem pela minha expressão doidivanas na foto abaixo, que estou meio fora de mim, sem a terna placidez do branco. Totalmente possuída pelo Cereja Intenso, código E105, da palheta de cores.

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