12.7.05
Chame o síndico
O síndico do seu prédio -- aquele que usa sempre a mesma camisa pólo branca para dentro da calça e cinto double face arrematando a barriguinha -- te pára na portaria e, conversa vai, conversa vem, solta:
- ...Angélica, você que é meio largadona...
Eu o quê?!!!
Você faz cara de "hã?"e ele insiste, como se não estivesse falando nada novo:
"É ... Vc que tem esse jeito assim... ah, você sabe! Meio hippie."'
Sim, senhora!
É a mais crua verdade: apesar das horas que você perde em frente ao espelho, apesar de você ser uma jornalista antenada, escritora incrível, super bem-informada sobre as tendências da moda, que usa uma armação de óculos VALENTINO;
e ele não passar de um total careta, que votou pelas pastilhas bege na fachada, e que usa óculos de fármacia, é aquela opinião que parece ser prevalecer entre a vizinhança, a julgar pelo risinho sonso do zelador e aquele olhar estranho da moça do 203.
Primeiro, você respira fundo e decide não levar em conta a opinião "de uma pessoa como ele".
Dá um ponto final na conversa com um:
"-- Se largada é o contrario perua, considero até um elogio"
antes de entrar no elevador.
Mas lá pelo décimo andar, você começa a ter fantasias paranóicas, desconfiando que ele e sua mãe estão juntos num plano maligno para te convencer a usar meias da mesma cor.
Daí, quando você finalmente entra no seu apartamento, acaba lembrando das milhares de vezes que desceu de moletom e t-shirt velha para pegar a correspondência.
Ou que deu um pulinho na garagem, sem sutiã e com o cabelo amarrado de algum jeito bizarro.
Nesse momento, você passa a sentir uma ponta de responsabilidade, achando que, afinal de contas, aquela imagem podia até ter alguma base em fatos reais.
é aí que vc acaba perdoando o Síndico. Um pobre coitado que nem ao menos consegue reconhecer uma armação italiana...
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